...mas...é só um abraço
Prende-me nesse abraço
no olhar aveludado que derramas
na claridade das manhãs.
Envolve os meus dias de quietude
de gestos e sorrisos
não deixes que eu parta
sem o enlace dos corpos
sem a cumplicidade dos afagos
num silêncio definitivo
OH ! não entendes de abraços
de mãos cheias de todas as coisas...
não sabes que nesse abraço
tens o desejo de uma festa.
Apesar de tudo, é no abraço que finges desconhecer
que te escondes de ti
te esvazias de sensações
e te evades da vida
...mas...é só um abraço!
Foi-me dirigida uma crítica,pertinênte e construtiva, sobre o que escrevo; falta de profundidade,básico,simples.Foi uma troca de conceitos e ideias interessante.No entanto não sei ou ainda não aprendi(quero aprender?) a dar outro rosto às emoções,aos afectos,aos sonhos,à imaginação...ainda conjugo tudo com o coração.Quanto à profundidade e complexidade, na escrita tenho mesmo que deixar para os que escrevem e sabem-no fazer bem.
A conversa bem amigavel,alertou-me para a profundidade com que encaro a vida,tentando reflectir e intervir no que me rodeia de forma positiva e harmoniosa,sentindo-me bem comigo e com os outros.Sobretudo respeitando as ideias divergentes de cada um. O que escrevo é mesmo muito simples.
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Boas noites
As noites, muito lentamente, estão a levar-nos de volta ao aconchego da manta, ao aninhar dos sonhos...
" O sono é mais perfeito, quando é partilhado com alguém que amamos. o calor, a segurança e a paz de alma, o conforto absoluto do toque do outro une o sono, leva corpo e alma e é completamente curativo."
D.H.Lawrence
...ao pausado descanso , ao encontro da lua que hoje espreita no seu fulgor a minha janela.
Boa noite
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O menino foi sozinho
Uma manhã de Setembro. Os raios de sol, brincavam às escondidas, entre as árvores lá da rua.
Numa das casas dessa rua, já se instalara algum alvoroço. O acontecimento não era para menos. Tudo tinha sido preparado com cuidado, com amor e muita ansiedade.
O menino ia entrar na escola, pela 1ª vez. Uma nova etapa para todos. O corte umbilical, uma mistura de dor e felicidade. Aquele aperto no coração.
Recordo a minha calma aparente, de faz de conta...
E o menino, tão asseado, acho que até se tinha deixado pentear. E os calções...azul escuro, e os ténis cor de laranja a contrastar com a camisola. Muita cor naquela manhã de sol. Só queríamos uma vida colorida para o menino.
O pai e a mãe, prontos para levar o seu menino, pela mão.
E o menino?onde está o menino?
Depois da aflição a procura, até debaixo da cama, não fosse o menino ter arrepiado caminho, lembrámo-nos da mochila.
Foi isso mesmo!
Caminhámos a passo largo em direcção à escola, não era longe desta rua...nesse dia, bem mais animada pelo riso das crianças.
Ainda era cedo e na nossa ansiedade de encontrar o menino entramos quase a correr no recreio da escola.
No banco corrido de madeira, estava o nosso menino com a mochila a seu lado e um sorriso.
Cruzámos o olhar, respirámos fundo, acalmámos o coração e...a resposta a pergunta nenhuma foi: " Eu já sabia o caminho da escola, vim pela beirinha e atravessei na passadeira...já sou grande!"
E sentámo-nos ,um de cada lado, como se quiséssemos reter para sempre aquele momento.
O menino começou o seu voo nesse dia, nessa manhã ensolarada, luminosa ...de 1986 com o pai e a mãe por perto...a deixar voar, amparando as quedas.
Há dias, relembrávamos o 1º dia de aulas,. com um grande sorriso.
Vislumbrei o mesmo sorriso daquela manhã.! Olhos de mãe.
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Quem eu fui
Vejo-me nos caminhos já estreitos do pensamento
onde tudo perde a cor a forma
no crepúsculo pardo no cair da noite
neste abandono dos dias desbotados
resvalo lentamente nos resto de mim
Quem eu fui...
perco-me nas esquinas que dobrei
não vislumbro já as luzes da cidade
inquieta-me esta memória apagada
esta demência de mim
não os vejo
não os tenho
os que abracei e embalei
nesta mãos tolhidas e frias
Quem eu fui...
são os meus passos arrastados o eco longínquo
ah...não era a tua voz...nem o sorriso dos meninos
estes laivos de mim, que me assolam em surdina
sento este corpo seco e curvado
num descanso doloroso
numa espera confusa...de nada
Quem eu fui...
afunila-se o caminho vagueio pela indiferença dos dias e das noites
nesta angústia de já não me saber aqui
recolho-me a esta demência de sombras
e numa réstia de quem fui...sinto o calor de uma lágrima
como um afago, um carinho
neste rosto outrora aveludado, luminoso
Hoje sulcado,ressequido,apagado pelo esquecimento.
OBS:
Este texto,estava guardado como muitos outros.Esta publicação deve-se ao maravilhoso texto postado no blogue "Lua de Sol".Que foca com pertinência,a solidão e o esquecimento a que sujeitamos os nossos idosos.Este é o meu grito de revolta.
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Quando...
Quando te desvaneceste, te esfumaste da memória dele?
Quando deste conta que o mar já não beijava a areia?
Quando perdeste a vontade de olhar o céu?
Quando a mesma música perdeu a melodia?
Quando sentiste as mãos sem calor?
Quando te desencontraste no olhar fugidio dele?
Quando...quando...?
Quando pegaste em ti,
e do outro lado do espelho,
te olhaste e te amaste
Já não há memória de rostos...perderam-se...ou nunca chegaram a existir
não souberam de cor, cada gesto...cada traço...
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EU versus EU
«Há entre as figuras que compõem o meu ser duas encarniçadas uma contra a outra. Há uma que crê, outra que não crê. Há uma capaz de todas as cobardias, outra capaz de todas as audácias. Há uma pronta para todos os rasgos e outra que observa e comenta. Mas há entre as figuras que compõem o meu ser uma que está calada. É a pior. Olha para mim e basta olhar para mim para que eu estremeça.»
«Tu lutas contra esta figura que dentro de ti te impele; tu queres fugir de ti próprio, queres separar-te de ti mesmo, e não podes. Só consegues, à custa de esforços desesperados, manteres-te dentro da fórmula ou da máscara que escolheste, e arredar o crime e a loucura, e fingir e sorrir.»
Raul Brandão, in Húmus
«Há sempre um momento de saturação em que a vida nos finta, inesperadamente, e em que a nossa verdadeira natureza irrompe pra rebentar de uma vez com todos os coletes de forças, lembrando-nos de que existe, dentro de nós, um sósia encarcerado, vendado e amordaçado que, mesmo anémico e agonizante, consegue um dia quebrar as grilhetas e escapar da prisão, derrubando-nos com um só soco.»
Rita Ferro, (excerto do livro ÉS MEU )
Quando acabei a leitura do livro, És Meu, passou-me imediatamente pela cabeça, conversar neste espaço sobre o assunto. O ciúme, tão em moda, outrora, na literatura, hoje menos, mas não por falta de ciúme,este estado, de posse do outro, que é capaz de desencadear tragédias. O ciúme sempre ligado ao amor, na eterna confusão que onde há amor há ciúme, tomando para si o Eu do outro, sofucando a razão e o Ser do outro, aprisionando-o de tal forma, que o amor, lentamente se desvanesse se esvazia e vai dando lugar, a feridas dilaceradas, a raiva, ou ainda ,e o pior, à indiferença.E sempre em prol de um grande amor.Mas que amor é este que rouba barbaramente o EU do outro.
Desventrando-o.Anulando a sua existencia, como dono e senhor poderoso. O ciúme apresenta-se muitas vezes num disfarce dissimulado de defensor, como se o amor precisasse de defesa.Enquanto o ciúme cria raízes, num silencio a tudo, numa sobrevivencia doída, a tempestade vai tomando forma numa fúria descontrolada, o outro Eu , do Eu ,irrompe das profundezas numa loucura sem barreiras.Falar de ciúme,não é tão linear assim, não é facil ,porque são as emoções que nos "comandam".Mas nada desculpa um ciúme capaz de grandes tragédias, como a perda de alguém, como a perda da própria identidade, como a morte lenta de alguém que acreditou,um dia, que o amor era confiança,cumplicidade,harmonia e eterno...
( Falei com ligeireza,de ciúme, mas é um assunto realmente para reflexão)
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Labirinto - A noite com saudades
Há tempo demais que te observo, num definhar mortiço
nesses passos lentos sem vontade, num sorriso sem melodia
e agora essas lágrimas...
essa dor que também sinto
estranho-te tão muda
já não aceitas que te recolha em meus braços, que te afague os cabelos
em silêncios nossos
recatados na longa espera de amanheceres
não te encontro agora no leito onde me recebias
tu a segredar a luz dos dias dos sonhos
dos medos e receios
eu na minha própria escuridão a sussurrar calmaria
Em que labirintos adormeceste as cores que te vestiam
o vermelho do rubi
o verde da esmeralda
o azul da turquesa ...
tenho saudades dessa sinfonia brilhante
que nos deixava enlevadas nos braços uma da outra
das tardias conversas por mim adentro
das tuas insónias que velava
na imensidão do meu manto negro sentia-te serena
até sem ciúme dos dias por onde te arrastas agora
O teu desassossego é meu também
as tuas lágrimas são as minhas dores
Quero-te de volta a este lugar onde os sonhos são a minha luz
e num lamento sufocado
nesse olhar embaciado tiras do peito o grito que na minha escuridão ecoa
e me amedronta:
-Não sei onde me perdi nem tenho a certeza de me querer encontrar.
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Um chá quente
Já tinha saudades desta intimidade ,entre mim e o chá. As mãos começaram há uns dias a reclamar pela chávena bojuda do meu chá. As noites arrefeceram, alongaram-se e carecem de algo que lhes dê conforto. Chá! O coração também fazia já algumas reclamações...mas eu só lhes estava a dar um pouco mais de férias...há quem não goste de estar muito tempo inactivo... ou quiçá algum secreto receio de se sentir trocado. Não, sou fiel às minhas companhias, às que me fazem bem. E uma chávena de chá é remédio para todas as maleitas, só comparável ao chocolate.
Mas de volta a esta intimidade, recomeçada , hoje, delicio-me com este Allen Valley , de "um néctar âmbar dourado com um aroma perfumado e um gosto delicado, suave e subtil" ( informação obtida do livro, Guia do chá ),quando se gosta muito até se procura a proveniência do produto. Este é produzido na região mais alta da ilha de Sri Lanka, a sul, em Galle . De volta ao néctar para não esfriar que a noite está fresca.
Agora as saudades estão afagadas, as mãos quentes e o coração calmo.
O que um chá quente faz por nós!
Para quem gosta de uma companhia com características bem diversificadas, deve escolher um chá, e há, para todos os gostos.
Vou dando notícias dos meus chás.
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ONE - U2
Apenas e só para quem gosta muito.
Eu gosto.
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A noite tem a Cidade Ancorada
A noite tem magia
tem sonhos distantes e sombras escondidas
tem danças secretas
vestidos rasgados
A noite tem rituais de prazer
exuberância nas palavras
ruas e becos percorridos
empedrados de desejos
lendas e feitiços
A noite tem a cidade ancorada
no cais de embarque
para nela embalar os que sonham
É breve este abraço caprichoso
da noite com a cidade
que estranho afecto...
Já as sombras se penduram nas franjas da brisa da manhã
e regressa a passo lento, a cidade
vinda do cais do aconchego da noite
e tudo volta a ser multidão
na indiferença dos que passam